Com rotinas cada vez mais atribuladas e o aumento do nível de estresse em quase toda parte do mundo, as tradicionais viagens de férias em família começaram a dar espaço a outros tipos de passeio. Nos últimos anos, viajar sozinho se tornou popular. Não depender de ninguém para escolher o que fazer, quando e para onde ir, descansar de verdade (sem ter que conciliar gostos distintos em um mesmo roteiro), refletir sobre a vida e – quem sabe? – conhecer gente nova pelo caminho são os principais ingredientes desse tipo de experiência, que deixou de ser visto como falta de opção e passou a ser uma escolha com muitos adeptos.
Mas eis a questão: viajar sem companhia é para todos? Segundo a psicóloga Andrea Pavlovitsch, sim. “Não recomendo para quem vive situações emocionais muito graves, como depressão profunda e síndrome do pânico. Mas, se você goza de boa saúde, por que não? É ótimo, inclusive, para pessoas tímidas, que podem mudar seu padrão em uma experiência como essa.” Foi o caso da estudante Camila Marques, de 24 anos. “Tinha dificuldade de socializar, mas precisei me virar, conversando com desconhecidos, e acabei vencendo a timidez.”
Andrea explica que, quando estamos sós, tendemos a nos comunicar melhor e a ficar mais abertos para o mundo. “Mas você pode tentar aos poucos: vá ao cinema sozinho, depois a um restaurante, a uma festa e, por fim, encare uma viagem”, indica. A também psicóloga Thirza Reis ressalta que a pessoa não deve se sentir obrigada a fazer uma jornada desse modo, mas que, se essa for a escolha, há uma série de benefícios. “É um processo de autoconhecimento que passa pela desconstrução de si. Quando estamos sozinhos em lugares onde ninguém nos conhece, perdemos a vergonha de fazer o que queremos e a obrigação de agradar aos outros, então somos mais espontâneos. Expomos nossas fragilidades e também descobrimos que somos capazes de fazer muito sem a ajuda de ninguém. Isso é empoderador.”
Dificuldades Uma das habilidades desenvolvidas em viagens mais solitárias, segundo Andrea, é a autoconfiança. “Temos que resolver os problemas que aparecem sozinhos, como a possível dificuldade com uma língua diferente, sem ninguém para nos ajudar o tempo todo, e percebemos o quanto somos capazes”, defende. Para ela, isso faz com que a autoestima também aumente, assim como o senso de sobrevivência.
“Melhora muito a nossa capacidade de tomar decisões, principalmente em viagens para lugares distantes, pois o contato com outras culturas pode nos fazer confrontar nossas crenças e ter que fazer escolhas difíceis”, afirma Andrea. Por fim, segundo Thirza, o medo da solidão, um grande mal deste século, deixa de ser um fantasma.
O ideal, para a psicóloga, é que as pessoas tragam para o cotidiano tudo o que aprenderam na viagem. “Se em outros lugares você se sente à vontade de ir a um restaurante sozinho, por que não fazer o mesmo em Brasília, onde muita gente é solteira e mora só, e deixar de se preocupar com os outros?”, questiona Thirza.
RISCOS Para o gerente de Produtos da seguradora Assist Card, Volnei Veronese, escolher um seguro-viagem que se adeque ao seu perfil é importante. “Temos planos em que mandamos um médico no hotel, caso a pessoa não tenha condições de sair, e monitoramos o atendimento. Também, em caso de internações, há a opção de deslocar um parente para o local, com passagens e hospedagem sem custo adicional, o que é muito interessante para quem viaja sozinho.” Aos que planejam praticar esportes radicais, também é interessante fazer um seguro específico, que inclua a cobertura de acidentes para essas atividades. “Pela nova regulamentação dos seguros-viagem, que entra em vigor este mês, esse item vai ser obrigatório, mas, por enquanto, os planos assistenciais mais básicos normalmente não cobrem esportes”, diz.
A psicóloga Thirza Reis sugere que, para se manter em segurança, o ideal é sempre deixar alguém avisado dos seus planos. “Pode ser o recepcionista do hotel ou hostel onde você se hospeda ou mesmo parentes e amigos que ficaram na sua cidade. Caso você não volte por algum motivo, alguém vai saber, pelo menos, onde você esteve por último.” A blogueira de viagens Roberta Martins lembra que os brasileiros, normalmente, saem na frente quando o assunto é cuidados com a segurança. “Somos mais atentos. Sabemos que não é legal ficar com o celular ou a câmera expostos em qualquer lugar e que é sempre bom andar com um documento”, opina.
Fonte: EM.com.br